Sinto imenso alívio, contudo, porque a injustiça de nossos governos com a Bolívia, ainda bem, já foi corrigida. Também já nos ocupamos de acabar com o desequilíbrio militar na região e estamo ajudando a Venezuela a superar a "opressão histórica" do eixo (do mal) formado por Brasil e Argentina. Claro, ainda há que se corrigir injustiças históricas escondidas sob o tapete da "suja" história brasileira pelos historiadores imperialistas deste país de exploradores (não duvido que existam muitos outros conflitos importantes que foram ignorados por nossos adestrados historiadores "imperialistas"). É hora de romper os grilhões do pensamento único e liberar os recursos da pesquisa histórica para que possamos nos penitenciar perante o altar da História - como aqueles católicos filipinos - com chibatadas no lombo, digo, no próprio lombo. Uma proposta seria enviar recursos para programas de "Fome Zero" em todos os países da América Latina. Se bem que uma proposta desta, vinda de nosso governo, certamente representará um novo passivo histórico com os países mais pobres do continente que poderiam propor a mesma idéia. Digamos assim, uma nova categoria de dívida, uma "dívida intelectual" por termos lançado a idéia antes deles. Brasileiros arrogantes!
Aos que são contra as exigências do governo "oprimido e democrático" do Paraguai é bom lembrar o que nos dizem sempre, nos últimos tempos, algumas autoridades: "o que eles querem? Que façamos guerra"? Sim, esta tem se tornado o mantra oficial mais comum nos últimos tempos. Para ser justo, é bom que este mantra não seja válido apena para países de orientação socialista, digo, bolivariana. Afinal, o importante é "resgatar nossa consciência histórica". Já mostramos ao mundo do que somos capazes ("nunca antes na história deste país fizemos isto", dirá alguém). É hora de colocar a lição em prática: entregue-se Itaipu já. O petróleo, sim, é nosso (dizem os venezuelanos). Mas as águas, pelo que dizem, são deles, dos paraguaios. A nós, brasileiros, resta o orgulho de, seguindo os conselhos de nossos "intelectuais progressistas", "resgatar" nossa "dívida histórica" com o continente, entregando aos nossos vizinhos o que lhes pertence, por direito "sócio-histórico-consciente-de-classe".
(*) Sim, leitor. O excesso de aspas foi proposital. Em boa parte do que leio na imprensa, faltam as aspas. Muitas aspas.
Publicado originalmente no IM.