Wednesday, April 11, 2007

O Aborto

O Aborto

Por Reginaldo Almeida (Desde a Cidade do México)

Não é para menos que o aborto esteja causando um debate acalorado. Foi em Portugal, está sendo no Brasil e aqui no México também. É interessante que o aborto, tanto no Brasil como no México sejam uma bandeira das esquerdas. Nunca me dei o trabalho de buscar ler a respeito ou mesmo formular algum tipo de lógica, mas eu simplesmente não acredito em coincidências.

Antes de ser candidato a pai (minha mulher está grávida de 10 semanas), tinha uma posição muito mais liberal a respeito do tema. Sei o que é ser adolescente, com todo o repertório de camisinhas e anti-concepcionais, não me considero um ignorante, e nem por isso posso dizer que não passei um ou outro apuro quando a bendita regra atrasou, e não posso negar que naqueles tempos eu não tenha considerado o aborto como uma opção válida.

O fato é que hoje eu vejo o ultra-som do nosso(a) filho(a) e vejo o coraçãozinho batendo e me pergunto: quem teria coragem de, vendo tudo isso, ainda assim dar fim a esse serzinho? Acontece que o nosso nenê foi planejado e desejado, e dentro dessas circunstâncias, tal ato seria impensável.

Mas antes de falar de ética, vamos falar de lei. Entendo que no México não é permitido, porém, no Brasil, se uma mulher resultar grávida fruto de um estupro, o conseqüente aborto está completamente amparado pela lei. Os mais açodados afirmariam que é uma vida igual a qualquer outra. Concordo. Mas infelizmente não existe gestação mais indesejada que a oriunda de um estupro. Obrigar uma mulher a levar dentro de si por 9 meses o produto de uma violência é querer submetê-la a outra violência. Nesse caso é acreditar que a vida do filho (produto do estupro) vale mais que a vida da mãe (que certamente estará em pedaços). Nesse caso vou com a mãe.

Apesar de ser contra o aborto, ainda assim sou pro-choice. Acredito que essa deva ser uma decisão da mulher ou do casal. O meu grande medo é que o aborto se banalize e vire apenas mais um método contraceptivo. E nisso eu vejo duas conseqüências concretas: um aumento no custo da saúde, já que seria um procedimento normal (ou seja, todos nós pagaríamos os abortos de alguns) e a própria saúde da mulher, já que sabemos que abortos repetitivos trazem consigo seqüelas no que tange à fertilidade.

Também me pergunto por que as mulheres não teriam o conhecimento adequado para usar os métodos contraceptivos existentes (aqui considero inclusive a pílula do dia seguinte - depois falo dela) mas sim o teriam para decidir abortar. Eu realmente sinto algum cheiro de casuísmo político.

E por falar em política, vamos falar um pouco de coerência. Mesmo sabendo que falar de PT e falar de coerência é o mesmo que pregar num deserto (isso vale para todos os partidos, ao PT lhe toca mais porque está no poder), eu me pergunto porque o PT reage tão rispidamente contra a instituição da Pena de Morte (ou a diminuição da maioridade penal - isso me lembra das tiradas da massa encefálica dentro do cérebro do Lula), mas ao mesmo tempo defende a legalização do aborto. Não entendo porque seria tão absurdo executar um criminoso que já tenha dado inúmeras provas de que nunca mais poderia voltar ao convívio da sociedade (Fernandinho Beira-Mar, Marcola, Elias maluco, etc), mas é razoável executar a um feto sem culpa. Apenas para a reflexão.

Apesar de ser contra o aborto, quem sou eu ou quem somos nós para apontar e julgar uma mãe que tenha optado pelo mesmo? Não acredito que o aborto se torne um esporte, e certamente, uma mãe que opte pelo mesmo, terá cicatrizes psicológicas pelo resto da sua vida. Como não creio que este seja um ideal de vida, acredito que realmente seria usado como último recurso. Mas defendo veementemente que seja estabelecido um limite muito estrito de quanto tempo seria o tempo razoável para realizar o procedimento. Já li 45 dias e penso que possa ser um prazo razoável para a detecção da gravidez.

Quanto à pílula do dia seguinte, na maioria dos estupros, a mesma já é uma medida profilática para evitar a gravidez indesejada, assim que nesses casos, se há ou houve um acompanhamento profissional do episódio, nunca se chegaria às vias de fato de um aborto.

E você leitor, o que pensa?

3 comments:

Marco Aurélio Antunes said...

Se o seu "grande medo" é que o aborto se banalize, por que você é "pro-choice"? Por que você acredita que "essa deva ser uma decisão da mulher ou do casal"? Tal decisão deve ser "da mulher ou do casal" mesmo quando não há estupro? Se sim, por que você citou o caso de estupro? E por que você considera que 45 dias seria o "tempo razoável"?

Reginaldo Macêdo de Almeida said...

Vamos por partes:

Eu sou na essência "pro-choice" porque porque penso que seja uma intromissão que eu ou você queiramos opinar sobre a gravidez de um terceiro, quando não podemos nos colocar no lugar do julgado.

O fato de conceitualmente ser "pro-choice" não inviabiliza a minha descrença ou o meu receio da banalização.

Continuo achando que a decisão deve ser do casal, já que o filho foi feito pelos dois. Quanto ao estupro, eu o citei porque as pessoas que são contra o aborto, o são contra todos, inclusive o da gravidez oriunda de um estupro.

Citei 45 dias porque é o que eu tenho lido como sendo um prazo razoável para se descobrir que se está grávida. Ou seja, se vai fazer um aborto, é descobrir e abortar, quanto antes menos ruim.

negoailso said...

pro-choice, pro-choice, pro-choice, mais 997 vezes pro-choice.

outro exemplo: maconha - pentelhação no ouvido de um fumante é mais pernicioso que a fumaça que o mesmo manda para DENTRO DE SI